sábado, 24 de abril de 2010

“RETRATO” DE BRASILÉIA CONTADO PELA PARÓQUIA


foto: biblioteca do ibge

A professora Gislene Salvatierra, católica praticante, sempre gostou de pesquisar arquivos da Paróquia de Nossa Senhora das Dores em Brasiléia, quando autorizada pelos padres para conhecer melhor a história da cidade através dos relatos escritos. Apaixonada pela história de Brasiléia, diz que até o Senhor Bispo prelado na ocasião, Moacyr Grechi esteve nesta paróquia na década de 70. Então, nestas memórias, trata-se de um recorte temporal do início da década de 70 (ênfase 1973) com situações que descrevem o momento vivido pela Igreja e moradores de Brasiléia e “Epitácio Pessoa” (atual Epitaciolândia).

Há nos registros que no dia 13 de março de 1973 a Igreja recebeu um convite do prefeito para que autoridades locais e eclesiais participassem no dia 31 de março do aniversário da Revolução de 1964. Note ai a influência dos anos do governo do General Médici (1969 – 1974) nos hábitos dos governantes pelo país. Nada como comemorar a Revolução (Golpe Militar de 64) já que este período é marcado segundo a história como “anos de chumbo”.

Já em abril, nas visitas feitas às famílias, provavelmente feitas por cinco servas de Maria – Maria Magdalena Marchesini, Maria Stefanina Calzolari; Ana Maria Gretter; Maria Patrizia Baravelli e Maria Francisca Frigieri (vindas de Galeazza – Itália) perceberam um quadro social típico da época e descrito na literatura do Acre, de famílias vindas dos seringais, que haviam vendido suas colocações com valor de uso das árvores para os “sulistas” que a concebiam com valor de uso e troca - a terra. Talvez uma situação um tanto inusitada para quem espiritualmente passa a ter um “papel novo” de atenuar as tensões deste período ou conciliar partes.

Paralelo a isto em “Epitácio Pessoa” (vila de Brasiléia) as missas estavam sendo celebradas em uma escola, dado o andamento da construção da Igreja de São Sebastião (que anualmente também atrai milhares de fiéis para o 20 de janeiro). A planta inicial previa uma grande igreja na forma de “Cruz Latina”, que só o braço mais longo foi utilizado (devido fatores financeiros), dando a forma de um salão levemente retangular.

No dia 3 de maio no período da noite quando estavam na semana de arraial da Igreja registraram uma friagem de 18°C. Nada que estragasse no dia seguinte a euforia da cidade com o anúncio pela Rádio 3 de Julho (rádio que tinha a data de aniversário da cidade e que fora fechada em fins da década de 90) da visita do Bispo Dom Moacir para ministrar o curso de Carisma.

No mês seguinte, moradores da Rua Odilon Pratagy (rua das palmeiras ou na rua da prefeitura - prédio antigo, reformado para a câmara municipal atual) em maio de 1973 lembra-se do “caso das abelhas”. O padre Mário e as irmãs tiveram muito trabalho à noite para eliminar com fogo o resto das abelhas no quintal. Em 72 o Padre Hugo Poli (nome que se imortalizou na Praça já modificada atualmente onde é feita o Carnavale), antes de deixar a função de vigário, decidiu limpar o quintal e se desfazer a criação das famosas “abelhas italianas”, mas alguns enxames conseguiram sobreviver, alojando-se no amontoado de caixas tidas como destruídas. A professora Gislene relembra com muita precisão o “aperreio” da época: “Depois de oito meses de vida sossegada na cidade (oriunda do Seringal São João), testemunhou as abelhas fazerem tanta confusão para nada. Nem mel, nem favos – as caixas reviradas e as rainhas se movendo lambuzavam mel com larvas, néctar, favos com crias, favos nutrizes (com abelhas que ainda não consegue voar), misturando ao invólucro exterior quebrado. Que desperdício, relatou a professora Gislene que de pânico e correria nem conseguiu adoçar a boca com mel.

E aos vinte nove dias do mês de junho de 1973, ocasião em que se aproximava o aniversário de Brasiléia (3 de julho de 1910), o prefeito da época lançou o concurso para criar a bandeira de Brasiléia. Na ocasião os concorrentes se reduziram a 3 grupos: Os escoteiros; as professoras do pedagógico e as irmãs servas de Maria como vigário. Até hoje a prefeitura ainda realiza concursos diversos para certificar pessoas que se interessam por programas ou gincanas ligadas às comemorações de fundação do município.

Em 2010 quando todos os olhares se voltam para o Centenário de Brasiléia, achei interessante ver Brasiléia da torre da Igreja que viu toda a formação da cidade, desde um terreno “pantanoso” da várzea do rio acre até os dias atuais que continua a ser vista por muitos. Se o turista vai se hospedar fica perto da igreja ou passa por ela. Se for para folia do Carnavale em algum momento passa por ela.

Esse é apenas um recorte do olhar das freiras e vigário em 1973. Assim, A Igreja Católica tem um grande tesouro em seus manuscritos que no futuro poderá disponibilizar ao público para que Brasiléia vislumbre seu passado maravilhoso. Parabéns Brasiléia!


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